sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A Guerreira Ferida

Após muitas leituras, conversas com outras mulheres e pesquisas decidi me perguntar quem é a “Guerreira Ferida”? É a mulher independente, confiante, bem sucedida, a mulher que conquistou o seu espaço dentro do mercado financeiro, tendo geralmente excelentes cargo e remuneração, muitas vezes sendo chefe de muitos homens. É capaz de resolver qualquer problema e geralmente não pede ajuda, mesmo quando precisa. Conquistou essa posição com muita luta, enfrentando toda a dificuldade que existe para uma mulher ocupar um cargo de confiança em uma sociedade patriarcal, muitas vezes sangrando para isso.“Durante sua “jornada” essa guerreira, por proteção, veste-se com uma “armadura” e está sempre com sua ”espada” na mão, uma visão simbólica que demonstra estar na defensiva. Acredita que não precisa de companhia, abandonou a fantasia do “Príncipe Encantado”. Algumas vezes essa “Guerreira Ferida” se torna amarga, zangada e se castiga privando-se de vivenciar suas emoções, de demonstrar suas fragilidades, ser espontânea. Só que essa ‘Guerreira’, na realidade, está muito ferida; a dor é sentida na alma, no coração. Ela está cansada de lutar, a armadura está pesada e ela sente que há necessidade de equilibrar o uso da espada.”Na psicologia feminina, segundo a especialista no assunto, Jean Shinoda Bolen, a “Guerreira Ferida” é um dos arquétipos mais presentes na sociedade atual. Shinoda relaciona este padrão fazendo uma comparação entre a mulher contemporânea e as deusas gregas. Nesta visão a “Guerreira Ferida” é a mulher em desequilíbrio entre os arquétipos das deusas Afrodite e Athena.A mulher teve que despertar este arquétipo da guerreira para sobreviver na sociedade atual. Ela veste suas armas para realizar seus sonhos. Só que não sabe como equilibrar este padrão com as outras faces do feminino que habitam em seu interior e ainda a medida certa entre o equilíbrio das energias masculina e feminina.Como curar a “Guerreira Ferida”? Segundo Suzana Kennedy, ”a Guerreira Ferida almeja se transformar em Deusa, mesmo que não pudesse usar essas palavras para descrever o seu desejo. Quem é a Deusa? A Deusa é simplesmente a incorporação do Divino em um corpo feminino. Ela tem discernimento e age com integridade. Ela tem uma essência de paz interior que é inabalável. A Deusa irradia uma energia que é tão poderosamente bela, amorosa e suave, que os outros são atraídos para ela como imã.”A Deusa pode ter sido uma “Guerreira Ferida”, mas curou suas feridas, equilibrou a face guerreira com as outras faces: a mãe, a amante, a menina, a anciã, a protetora, a espiritualista, a sombra, a luz, etc. Ela sentiu todos os seus medos, anseios, raiva, amor, libertando-se. Ela transformou seus sentimentos, a traição e abandono em confiança e tranquilidade. Ela aprendeu a olhar para dentro e gostar do que vê. Ela combate o ataque espiritual e físico com amor.A “Guerreira Ferida e a Deusa”: dois arquétipos femininos poderosos. Um cansado e ferido; o outro, radiante e curado.A mulher que vive o padrão da “Guerreira Ferida”, para ser curada, deve reencontrar-se com sua “Deusa Interior” e isso torna-se mais fácil quando a mulher descobre a sua espiritualidade, sentindo que o divino habita dentro de si mesma, esse é um dos maiores legados que o movimento do Sagrado Feminino pode promover para as mulheres da minha geração, que foram criadas e incentivadas a se tornarem profissionais bem sucedidas. Nesse reencontro essa “Deusa Mulher” renasce e sabe desfrutar toda sua feminilidade com coragem que emana do seu coração. Ela confia plenamente no poder de ser mulher, nos seus instintos, no poder do seu ventre sagrado. Ela se liberta de seus sentimentos suprimidos de traição e abandono. Ela equilibra razão e emoção, masculino e feminino... Ela irradia amor, confiança, beleza. Ela também sente o divino em todos os seres, sentindo necessidade de compartilhar a sua descoberta.Curada, essa guerreira reconhece e desperta outros aspectos da Deusa que lhe sirvam melhor em qualquer momento.Reconhecer a ferida e saber que temos a responsabilidade e oportunidade de se curar é o grande segredo para dar o passo definitivo na direção da cura dessa Guerreira que anseia em ser Deusa, isso é possível, quando aprendemos de novo sobre como acessar nossa sacralidade, reverenciando nossos ciclos como nossas ancestrais faziam, pararmos de agir como o sistema nos programou, reprogramando nossa consciência, voltando-se para o centro de nós mesmas, o centro da Terra, o Útero da Grande Mãe. Lá em seu colo nos encontramos com a Deusa Interior, e curamos nossa Guerreira, que aprende a usar sua espada e seu escudo somente quando for realmente necessário. Esse processo árduo, não acontece de uma hora para outra, mas com dedicação e paciência, conseguimos ótimos resultados, experimente!

Fontes de consulta:
Texto “A Guerreira Ferida” de Suzanna Kennedy.
"Mulheres que Correm com os Lobos", de Clarissa Pinkola Estes
"As Deusas e a Mulher", de Jean Shinoda Bolen.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Visões de Sangue

O sinal vermelho que as mulheres hindus pintam no seu terceiro olho é um símbolo do sangue menstrual. Originalmente, as mulheres pintavam o seu terceiro olho com o própria sangue menstrual e a magia do sangue abria o sexto chacra (centro energético associado a visão espiritual e psíquica).
O aspecto visionário da menstruação esta claramente invocado por esta prática. O sangue transporta-o até as células do corpo e por isso o sangue contem o conhecimento do código genético (ADN). O código genético e a linhagem familiar estão contidos na corrente sanguínea. Cada célula do corpo é um microcosmo do todo.
Quando pintamos o nosso terceiro olho com o nosso sangue, abrimo-nos ao conhecimento oculto de este código genético. Esta informação inclui um profundo conhecimento ancestral e pode trazer uma compreensão dos nossos próprios padrões familiares e os do gênero humano.
Todos trazemos dentro o conhecimento de todas as gerações de seres humanos que existiram. Oculta neste código genético há uma massa de informação reunida através da história. Ocasionalmente, a informação fica adormecida e as vezes deseja aflorar de novo. Estamos vivendo uma época em que o conhecimento da terra e da mulher, esta regressando a consciência coletiva e através do nosso sangue podemos entrar nela.
A próxima vez que sangrar, tente se relacionar conscientemente com o seu sangue. Tente pintar um pequeno ponto vermelho entre os teus olhos e observa como o conhecimento da terra e dos teus ancestrais flui até a tua consciência. 

*Seu Sangue é Ouro - Lara Owen

domingo, 17 de agosto de 2014

A Menstruação como um Sabá

A antiga palavra babilônica correspondente a sabá, sabbatu, vem de Sabat e significa “repouso do coração”. Na Babilônia, era um dia de descanso, quando constava que a Deusa Ishtar estava menstruando. Nesse dia, todos eram proibidos de viajar, de trabalhar e de comer alimentos cozidos – do mesmo modo que, em muitas culturas, ocorria para mulheres menstruadas. As tabuas cuneiformes da quarta dinastia de Ur, datadas do terceiro milênio a.C., relatam-nos que, na Suméria, os períodos da lua nova e da lua cheia eram devotados ao cumprimento de rituais.
Do mesmo modo, o sabá dos judeus originalmente tinha lugar na lua nova e na lua cheia; foi mais tarde estendido a cada quarto da lua. Estes dias muito remotos de repouso, vinculados à lua e à menstruação, foram a origem do moderno sabá judeu e do domingo cristão.
Atualmente, poucas pessoas dedicam-se, pelo menos um dia por mês, a realmente descansar. Em geral, a cultura euro-ocidental é obcecada pelo modo de vida Ativo. Só valorizamos a nós mesmos se estivermos fazendo alguma coisa, considerando as pessoas que não fazem muita coisa membros menos validos da sociedade. Somos orientados para a produtividade e para o acumulo de riquezas e posses, e não para o acumulo de sabedoria, força espiritual e autoconhecimento.
Esse fazer contínuo não conduz à felicidade ou ao bem-estar. Todos conhecemos o alivio de estar de férias e não ter de Fazer Nada. Obviamente, se todos nós puséssemos de lado nossos instrumentos de trabalho e decidíssemos apenas Ser, isto iria desequilibrar a outra direção, mas talvez pudéssemos ter um pouco mais de tranquilidade e menos pressão em nossas vidas. Com isso, não estou pensando em nos sentarmos diante da televisão e assistirmos as pessoas matando umas às outras e enganando seus cônjuges. Estou pensando, em vez disso, em nos sentarmos diante de uma arvore ou de um lago ou do mar, e apenas Ser.
Sem duvida, era bastante valida a antiga ideia do Sabá: um período de descanso, sem trabalho, dedicado à oração e à contemplação. À medida que a Era industrial inventava o vapor, energizado pela ética do trabalho protestante, o sabá ia caindo no desagrado e os velhos tabus proibindo o trabalho em um dos dias da semana foram desaparecendo. Isso só pode significar um acréscimo ao estresse a à pressão da vida moderna. Nossos corpos e nossas mentes necessitam de relaxamento, de um período de descanso, e nossos espíritos precisam ser nutridos – têm necessidade de algum tempo dedicado somente à vida espiritual. A falta do sabá pode ser responsável por tantas pessoas ficarem resfriadas e gripadas, pois esta acaba sendo a única maneira delas poderem ter um sabá, uma pausa do Fazer contínuo.
Em muitas partes da America, a única maneira de você dizer que um dia é domingo é pelo fato das praias estarem mais cheias, o jornal de domingo estar nas bancas e haver menos trafego no centro da cidade. Fora isso, é tudo igual. Todas as lojas estão abertas e a maior parte dos serviços está disponível. Sem falar da televisão, que jamais dorme. Se você está sempre com pressa, fazendo isto ou aquilo, correndo atrás de si mesma, quando realmente tem tempo para aquilatar seus sentimentos? Quando tem tempo para refletir sobre o motivo de ter reagido tão violentamente ao comentário de um colega sobre ele detestar animais dentro de casa, sobre a razão do seu marido estar lhe incomodando tanto no momento, sobre odiar vestir vermelho, sobre o simples fato de sua mãe vir almoçar em sua casa lhe encher de pavor? Você pode ter uma ligeira ideia do que essas coisas significam, pode até pô-las de lado e continuar correndo, mas não vai compreende-las e sanar suas dificuldades que existem em sua vida, se não tiver algum tempo de sossego.
Para a mulher, o tempo da lua é a ocasião óbvia do seu ciclo para uma interrupção no Fazer e para ela apenas ficar quieta e Ser, relaxar e sangrar. É um período natural para uma abertura aos domínios espirituais e para efetuar o trabalho de conhecer e compreender o ser que só pode emergir no tempo vazio, tranquilo e sossegado.
Na tradição judaica, o primeiro dia de cada mês (que teria sido o dia da lua nova, antes de adotarmos o calendário solar, e, tradicionalmente, o período da menstruação) é um dia santo para as mulheres, chamado de Rosh Chodesh (inicio do mês). Este feriado está sendo reivindicado por algumas mulheres judaicas. Era uma aceitação ritualizada do desejo das mulheres descansarem quando estão menstruando.
Um período calmo é muito útil, para os problemas de relacionamento, e sentar-se quieta por algumas horas pode realizar maravilhas para se enxergar as coisas de um modo mais claro. Muitas disputas e brigas originam-se de uma descarga de adrenalina, pois muitas pessoas estão continuamente aflitas, lutando contra o trafego para ir ao trabalho, cuidando ao mesmo tempo da família e do emprego – e, alem disso, a televisão está a noite toda gritando na sua frente e você Não Tem Paz.
No mundo euro-ocidental, ficamos tão acostumados a levar esta existência pressionada que muitas esqueceram-se de como se descansa. Parece algo aborrecido, pois crescemos acostumados a um estimulo externo contínuo. Mas há uma vida interior e também uma vida exterior, e essa vida interior – a vida do psiquismo – é muito preciosa e é o manancial da nossa criatividade, de nossa dádiva para o mundo. Finalmente, podemos não produzir nada de grande valor se não alimentarmos essa vida interior. Ela necessita de um período de sossego para crescer e se desenvolver.
Podemos reaprender como estar novamente no ritmo da tranquilidade. Um dia já o soubemos, quando éramos bebês e crianças pequenas e passávamos de surtos de rápida atividade a momentos de tranquilidade e sono, depois retornando à atividade. Precisamos dar um tempo a nós mesmos: tempo para absorver a mudança, tempo para tomarmos conhecimento do que se passa a nossa volta – não levar a vida como uma viagem de turismo com paradas rápidas, em que temos de agarrar o máximo que pudermos antes de sermos lançados fora do trem. Temos de dar a nos mesmo tempo suficiente para estarmos novamente em contato com a tranquilidade, tentando apenas ficar sentados, sossegados. Muitas pessoas têm a experiência de sair de férias e não saber o que fazer consigo mesmas durante os primeiros dias, com todo aquele tempo disponível e não estruturado. Depois de três ou quatro dias recordam-se de como é apenas Ser, e quando estão adorando e desfrutando do seu ócio, já esta na hora de voltar para casa. Se tivéssemos mais tempo ocioso em nossa rotina regular, talvez a vida fosse menos carregada de pressão e mais plena de prazer.
Se encararmos a menstruação como a época natural para o relaxamento e o sossego na vida de uma mulher, podemos começar a reaprender o ritmo de estar em paz conosco mesmas e então começar a colher os benefícios de um relacionamento mais intimo com nossos seres internos.
A menstruação pode ser uma época de profunda sedimentação e contato consigo mesma, quando uma mulher é naturalmente colocada em relação direta com seu centro de gravidade – o seu útero. Por isso, nessa ocasião há realmente uma maior capacidade para o relaxamento – para escutar, para receber a mensagem do cosmo. O conhecimento que nos é disponível durante a menstruação não pode chegar até a nossa consciência se estivermos com pressa de cumprir as exigências de nossas vidas cotidianas.
Ficar tranquilo e voltado para si mesmo são pré requisitos em todas as tradições espirituais para o desenvolvimento da sabedoria. A menstruação é um período natural para as mulheres meditarem e estabelecerem contato interno e externo com o divino. Quando o corpo está tranquilo, a mente também fica tranquila; nesse caso, a sabedoria espiritual que existe em um nível mais profundo da consciência fica liberada para alcançar a superfície do conhecimento.
*Fonte: Seu Sangue é Ouro (pág 105 - 110), de Lara Owen.